Como uma Harpa em Música Rock

Na semana passada tive a honra de ser convidado para o jantar de aniversário de uma amiga muito querida. Já trabalhámos juntos mas, há uns meses atrás, ela decidiu mudar de local de trabalho. Tive pena porque me dava muito bem com ela e receei que o contacto se fosse perdendo...Sabem como é, para que as pessoas se afastem não é necessário que se zanguem...Basta seguirem caminhos diferentes. Já me aconteceu inúmeras vezes, a vocês concerteza que também e ainda há-de voltar a acontecer muitas vezes ao longo da vida. Porém, o contacto não se perdeu e, de vez em quando ainda falamos, saímos e tomamos uns cafezitos em alegre cavaqueira...Ora dizia eu que fui por ela convidado para o seu aniversário e lá fui eu, com todo o gosto, rumo às estreitas ruas que rodeiam a imponente Sé de Lisboa.

Começámos a comer e, pior que isso, começámos a beber...Como tinha ido de carro, limitei a ingestão de álcool ao mínimo não fosse ter que soprar no balão no caminho para casa. Já tive que soprar no pipo antes e, mesmo tendo bebido (minimamente, como é costume...), acusou sempre um redondíssimo zero. Mas como não gosto de confiar na sorte e prezo muito a carta de condução que muito me custou conseguir, prefiro não arriscar...O pior é que nem todos tinham a seu cargo uma lata com rodas...Como sempre, há que vá à boleia e, consequentemente, tenha total liberdade para etilizar o seu hematócrito e o plasma respectivo...Como a minha amiga aniversariante...Ah, devo também dizer que, para além da aniversariante só conhecia mais três pessoas e todas as pessoas presentes no jantar se conheciam entre si...excepto a minha pessoa, of course...Quero com isto dizer, resumindo e concluindo, que me sentia como um americano em Bagdad...assim, um bocado fora do meu mundo, por mais porreirinhas(os) que fossem todas(os) as(os) comensais...
Onde é que eu ia...ah, já sei...dizia eu que a minha amiga aniversariante, ao longo da noite, trabalhou arduamente para turvar as suas faculdades psicomotoras ao ponto de começar a dizer que eu devia por os olhos numa amiga sua (bem gira, por sinal...) e que a sua amiga devia por os olhos em mim (bem sinal, por giro...), and so on, and so on...Não foram bem estas as palavras que usou, mas a ideia era mais ou menos esta...E nós íamos rindo com estas divagações, entrando levemente na brincadeira, e tal, e tal...Neste ponto, estava a ficar surpreendido comigo mesmo e com a minha capacidade (completamente nula desde sempre e até então...) de entrar neste tipo de brincadeiras sem corar que nem um pimentão (acho eu...) e metendo acertadamente uma bucha humorística aqui e ali...

Foi Sol de pouca dura...Algum tempo depois, estava a amiga da minha amiga à porta do restaurante a fumar e eu regressava do WC que estava perto da saída...Nesse momento, fixámos o olhar um no outro mais do que dois segundos (pela primeira vez nessa noite e não a censuro se tiver sido a última...), o que me pareceu tempo demasiado para desviar o olhar sem dizer o que quer que fosse...Reparem agora na fantástica tirada com que brilhei junto da amiga da minha amiga. Disse-lhe qualquer coisa como:

- Ainda apanhas um cancro no pulmão!!

Ela, cheia de compaixão, lá foi descobrir um sorriso bem no fundinho do baú enquanto eu fugia sorrateiramente para dentro do restaurante, com a certeza que tinha acabado de arruinar os ébrios esforços da minha amiga aniversariante...Por mais embaraçoso que tenha sido o momento, com uma pequena alegria fiquei: posso continuar a ser um desastre, mas ao menos sou coerente...Ehehehe...

P.S. - E eu não estava bêbedo...Juro!!!