segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006

Já que estou com aquela pica toda do início, vou aproveitar


Hoje vou falar sobre o mais velho elemento da minha família. Que, por acaso, até é uma elementa. Se olharem com atenção para a fotografia acima vão reparar em 3 pessoas, ou melhor, vão reparar num ombro direito, num psicopata e numa pobre velhinha que não teve outra hipótese senão ser esganada naquele momento, como se não houvesse amanhã...

Pois é mesmo sobre essa pobre velhinha que me apetece falar. Sobre a sua infinita paciência para me aturar e sobre a minha infinita paciência para lhe pagar na mesma moeda.

Cenário típico...Há alguns anos atrás, véspera de frequência ou exame importantíssimo e eu a estudar (ou a tentar fazê-lo...) no meu quarto, de porta fechada. O silêncio é quase sepulcral, só cortado pelos murmúrios que profiro a ler a matéria enquanto me abano na cadeira para trás e para a frente num vai-e-vem à beira do descontrolo motor...

De repente, a maçaneta range e a porta abre devagarinho, empurrada suvemente por mãos enrugadas que, na tentativa de fazerem o menor ruído possível, apenas fazem o maior ruído que é possível fazer a abrir uma porta...Tal qual um filme de terror...iíííiiiííiiííi...

Acaba-se momentaneamente com a reza árabe pontuada por expressões e frases estranhíssimas ao Corão como algália, saco colector ou a eterna discussão de fazer ou não fazer prega quando se dá uma subcutânea (se os árabes lêem isto, estou mailto:f@**, mas vou confiar na sorte...), assim como o vai-e-vem, e faço de conta que estou a estudar como qualquer pessoa normal. Costas direitas, indicador e polegar abertos em V a segurar o queixo e um dos sobrolhos franzidos assim como que a dar a entender que estou a entender perfeitamente tudo o que estou a ler (o que, na grande maioria das vezes, é mentira...).

Onde é que eu ia!? Ah, é verdade, na parte do iíííiiiííiiííi, pois... Entra, então, a pobre velhinha pé ante pé e diz qualquer coisa como isto...

- (sussurrado) Vim só deixar aqui umas camisolas para arrumar e não faço barulho nenhum, vá continua a estudar e faz de conta que eu não estou aqui, pronto eu saio já num instante (abre-se uma gaveta...iíííiiiííiiííi - sim, porque quase tudo chia nesta casa - e fecha-se gaveta). Estas já estão e, epá tens isto tudo desarrumado, não tens vergonha? (Esta seria, supostamente, uma daquelas perguntas de retórica às quais não se esperaria resposta mas com a pobre velhinha - pronto, é a minha avó, sim! - não há hipótese e a pergunta é repetida as vezes que forem precisas até eu grunhir qualquer coisa sem nexo e já sem nenhuma esperança em conseguir realmente tentar concentrar-me). Vá, vou já sair, é só mais um bocadinho e..não sabes dobrar a tua roupa? É preciso ficar tudo para aqui à balda, tudo amarrotado?? (pergunta de retórica...já estão a ver, não é??). Pronto, já está, já estou a sair, vês? Não demorei nada nem fiz barulho nenhum, não foi?

Eu - (voz impregnada de ironia) Ohhh!!! Olá, Vó! Nem reparei que tinhas entrado! Estás aí há muito tempo? Ah, as camisolas, pois...Obrigado!!!!

Aiii...esta é aquela parte em que eu tenho de ter muita paciência...Mas quando a perco...bem, é que pareço um furacão, quer dizer, uma tempestade, ou melhor, um vento forte, pronto confesso, uma brisazinha...Não faço nada:)! Porque a adoro, simplesmente por isso!!!
(Agora vou mostrar-lhe isto porque já são 22h30 e a senhora aquece leite como mais ninguém...é apenas uma pequena operação de charme:))

2 comentários:

NymphetamineUK disse...

Bem, nem sabes o q eu me ri quando li este teu texto :)
Primeiro, porque lembro-me perfeitamente destes momentos, q pelos vistos partilhamos e segundo, porque ap ler as tuas palavras parecia q estava mesmo a visualizar a cena e ri-me a valer.
Passaste muito bem para o papel por assim dizer, o espirito da coisa :)
Beijinhos e keep up the good work! LOL

Bela Isa disse...

Aproveitei o olha... também li este.
É bom que sejas uma brisazinha... de certeza que ela merece. :)