quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Eu cá love you-te bué, mon amour...

Que fique bem claro que gosto muito da língua portuguesa. Sinto muito orgulho em ser português e no facto de ser o português o meu idioma. Gosto que seja das línguas mais faladas do mundo e, ao mesmo tempo, que seja tão difícil de apreender por quem não a fala devido à sua riqueza e à multiplicidade de excepções que quase são regra. Gosto da vastidão lexical e das inúmeras palavras que, sendo sinónimos ou simples variações conforme a região, significam a mesmíssima coisa. Gosto de as descobrir e de as usar…A língua portuguesa é uma questão de química…palavras como combustível, entoações como comburente…uma questão de paixão…adjectivos gemidos que se enlaçam em verbos ofegantes…A língua portuguesa é, enfim, um caso de amor que se entranha sem que se estranhe.

Porém, até mesmo no maior amor se encontram defeitos e limitações. E, por mais bela que seja a língua portuguesa, vejo-me obrigado a admitir que há temas em que deixa um bocado a desejar…como no que diz respeito ao amor. Em época de Dia dos Namorados, urge admitir (com mais ou menos dor de alma…) que a língua portuguesa NÃO DEVE ser usada por quem queira engatar alguém…Senão vejamos: qual é palavra/expressão, qual é ela, que melhor representa o amor que se sente por outra pessoa? “Amo-te”, certo? Soa bem? Humm…vamos experimentar noutros idiomas…”I Love You” parece um sopro pela forma como se termina a expressão…”Je t’aime” derrama classe e charme por todos os poros…”Ich Liebe Dich” é fofinho, e fofinho é coisa que cai bem nestas história de amor…já a dizer “Amo-te”, ainda que seja com a voz mais doce do mundo, assemelha-se ao arremesso de uma bola medicinal para cima de quem a ouve…murmurar “Amo-te” exige o pré-requisito de enfiar um papo-seco na boca antes de o dizer e, desde que nascemos, que nos ensinam a não falar de boca cheia…muito menos quando se quer impressionar alguém ou, quanto muito, não suscitar…vá lá…nojo. Se calhar o melhor mesmo é não dizer nada…especialmente a palavra “Amo-te”…
Mas esperem, esperem…vamos lá dar outra oportunidade à língua portuguesa. O momento é de paixão ardente, de beijos lânguidos e peças de roupa que voam rumo a todos os pontos cardeais…Um espanhol vira-se para uma espanhola e cicia “Te quiero…te deseo…” e, perante isto, não há como não prosseguir com doçura e harmonia alinhando vontades como que encadeia as palavras de um poema…No quarto ao lado um português vira-se para uma portuguesa e sussurra “Quero-te…desejo-te…” o que soa logo a javardice…e, perante isto, não há como não prosseguir com o português a arrotar com estrépito e a portuguesa a fazer o buço com uma pinça…

E não é isso que se quer…





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