quarta-feira, 21 de março de 2007

Têm a Papinha Toda Feita...



Olá de novo, caros e existentíssimos leitores e leitoras!! Pois é, cá estou eu de regresso após (acho eu…) a maior ausência desde que decidi dar à luz (sim, por que também hei-de ter o direito de parir alguma coisa…) este blog…E sinto necessidade de justificar a minha ausência. Não que sinta que faço falta a alguém mas…porque sim, porque preciso fazer um pouco de conversa e preciso de arranjar uma introduçãozeca antes de começar a falar do que me motivou a abrir, finalmente, a chouriçolândia. Bem, dizia eu que sentia necessidade de justificar a minha prolongada ausência…é que tenho tido muita preguiça e, desta vez, muito trabalho também. É que desde Outubro do ano passado que ando a frequentar uma espécie de suicídio assistido que responde pelo nome de Pós-Graduação…É só mesmo para enganar porque o que aquilo é e tem sido é uma forma subtil de me eliminar aos poucos e uma forma nada subtil de assassinar, com requintes de malvadez, toda e qualquer vida social (da pouca que já tinha…). Seja como for, agora que já lá estou, só de lá hei-de sair suicidado, ou melhor…cof…cof…com aquilo acabado, quero eu dizer. O que, na melhor das hipóteses, será em final de Julho, e na pior das hipóteses será quando eu resolver testar os meus poderes levitatórios a partir da ponte 25 de Abril…
Já que falamos na ponte 25 de Abril, acho que já chega de introduções e de conversa para encher chouriços e podemos passar ao que realmente interessa (ok, é nesta parte que quem está a ler isto pode mudar de site…). No passado dia 18 de Março decorreu a 17ª Meia-Maratona de Lisboa e, mais ou menos ao mesmo tempo, a 14ª Mini-Maratona de onde!? De Lisboa, sim senhora…E eu estive lá. Mas, antes de lá chegar, combinei com a malta marinheira apanhar a toupeira de superfície em 7 Rios e seguir viagem até ao Pragal. Já calculava que partilhasse a toupeira com muita gente. Agora não estava a contar é que fosse viver uma experiência tipo-judeu-a-caminho-de-Auschwitz. É que, desde 7 Rios ao Pragal fiz toda a viagem sem me segurar a lado nenhum…e acabou por ser desnecessário porque a toupeira ia tão cheia que podia dar os solavancos que bem entendesse que eu dali não saía. Mexia os olhos e já podia considerar-me um sortudo…porque entrei na toupeira e tornei-me tipo-num-dispneico-a-caminho-do-Pragal.




Bom, mas chegámos e já começava a sentir o formigueiro nas pernas. Não sei se era vontade de correr (que era, ao fim e ao cabo, o que era suposto fazer…) ou se lhes ia dar um chilique que me impedisse de maratonizar.




Juntámo-nos à multidão e, segundo rezam as crónicas, às 10h30 soou o tiro de partida. Eu, pessoalmente, não ouvi nada e consegui juntamente com uns milhares de pessoas, cruzar a linha de partida cerca de 20minutos depois da prova ter começado o que, para alguém com legítimas aspirações à vitória como eu, é um rombo grave. Foi mais ou menos nesta altura que passámos à frente de um palco montado na beira da estrada para animar a malta e ouvimos o speaker de serviço a troar:

- Atenção, perdeu-se uma criança chamada Ruben não-me-lembro-do-resto. Se me estás a ouvir, vem até ao palco situado, etc…etc…

Passados 15 segundos, novamente o speaker, agora com um tom de voz a roçar o histerismo:

- O Ruben foi encontrado!! É assim a festa na Maratona de Lisboa!!!

É assim a festa na Maratona de Lisboa!?! Perder uma criança é uma festa!? Pois claro…para aumentar a adrenalina o que está a dar é perder de vista um puto e ficar em suspenso até que o speaker anuncie com vivacidade que tudo não passou de um susto…Tudo em nome da festa…
Mas a prova continuou, atravessámos a ponte…transpirámos…descemos até às Docas..transpirámos mais um bocadinho…e seguimos Avenida 24 de Julho afora. Nesta parte a estrada estava dividida a meio…metade para os participantes na Mini-Maratona e a outra metade para os participantes na Meia-Maratona.




Aí por volta dos 5kms de prova vou a trotar junto às grades separadoras e dou por mim a ser continuamente e rudemente ultrapassado por uma horda de gente pequenina e magrinha que se deslocavam a uma velocidade que eu só atinjo sentado…Se já me faltava o ar ainda pior fiquei com a desmoralização…Quer dizer, aqueles baixotes todos armadões e armadonas em bons e boas já levavam 18kms nas pernas (eu levava 5kms…) e passavam por mim como se fossem hereges a fugir da fogueira…E aqueles não iam ganhar porque os primeiros, aquela hora, já deviam estar à procura do gel de banho…Tive quase, quase a estender a perna e a tentar fazer a coisa parecer um acidente…Para não se armarem. Mas não o fiz e resolvi concentrar as poucas forças que me restavam em penar mais 3 ofegantes kms.

1h17m04s e 7500 metros de puro sofrimento depois do tiro que não ouvi cruzei a linha de meta não sem antes acenar vigorosamente para a tribuna VIP…Não se riam, ok!?! Também tenho direito à minha vitória pessoal!! Mais tarde vim a saber que o vencedor da Meia-Maratona (relembro, 21097 metros), um tal de Robert Kipchumba (do Quénia, é bom ser surpreendido de vez em quando…) gastou 1h00m31s…Até nem acho nada de especial…Tanta coisa com isto dos quenianos, e tal, que são muito bons, e tal…É verdade que eles correm muito, correm sim senhor. Mas também não é menos verdade que eles levam um avanço logo ao início. Partem da linha da frente e, se eu quisesse fazê-lo tinha que ir dormir para a Praça das Portagens. E está frio para essas coisas…E eles levantam-se à hora que querem e vão pô-los lá, nem que seja à coronhada...Queria vê-los a partir do meio do maralhal, queria…Isso é que era de homem…Agora, com a papinha toda feita não admirem que disparem por ali fora e só voltem a ser vistos com as folhinhas de louro na cabeça…
Enfim, apesar de agonizante, acabou por ser giro…Ganhei uma medalha de participação, uma barrita de cereais, garrafinhas de água e de Powerade, montanhas de papelada e ainda havia uma banca a oferecer gelados mas já não havia paciência para ficar ao Sol, a mais ou menos 200 metros da banca, à espera de lá chegar para ganhar um mísero gelado…
Quando as coisas são de borla, somos capazes de tudo. E esta filazinha de 200 metros fez-me lembrar o meu 7º ano…Estava a petizada no intervalo grande quando corre a notícia que estavam a distribuir Cheetos (lembram-se!? Que náuseas…) na Associação de Estudantes. Lembro-me como se tivesse sido ontem. Os putos aos magotes (e eu também…), cotovelada aqui, cotovelada ali, só para agarrar um pacote de Cheetos…Por momentos, senti-me um etíope a degladiar-se por uma malga de arroz…




Afastei-me da enorme fila dos gelados e fui sentar-me no lancil do passeio para esticar as pernas…Ao Sol…