sexta-feira, 13 de abril de 2007

Desafiando o Perigo..Sem Temor...


Agora que cheguei, finalmente, a casa estou todo inchado porque sei...agora sim, eu sei...que sou um indivíduo de coragem...Porque não é qualquer um que se sujeitava aos perigos e desventuras a que eu me sujeitei, ainda por cima hoje, aquele dia tenebroso e temível que é...a sexta-feira, 13...Uhhh, que medo..Que medo para as pessoas comuns mas não para mim, que sou comum mas não sei se posso enquadrar-me no perfil de pessoa...No sentido de se ser civilizado, quero dizer, normalzinho..daqueles que têm maneiras à mesa...Porque, ao fim e ao cabo, sinto-me como um diamante em bruto à espera que alguém o queira lapidar...Entretanto vou trabalhando a minha auto-confiança e isso passa por correr riscos arriscadíssimos, como os que corri hoje...




Hoje, sexta-feira 13 (uhhhh, que medo...), queria levantar-me cedo para embarcar numa missão de reconhecimento...E o meu cedo transformou-se em 10h da manhã...Bom começo, portanto...Levantei-me quase de arrasto, apanhei o boiador para Lisboa e, sem saber muito bem como fui lá parar, dou por mim a entrar no bote colectivo que me levaria ao destino...De repente oiço:


- Pscht...oh, amigo, amigo!!!


Como não tinha visto ninguém que se enquadrasse nesse perfil, continuei por mais dois passos até que voltei a ouvir a mesma voz:


- Oh, chefe!!


Ora, e como também não sou patrão de ninguém, fiz orelhas moucas e dei mais dois passos até que, a mesma voz, uns decibéis lá mais para o alto:


- Hey, oh...heeey, oh pá!!!


Até que acordei do meu transe e achei que, tendo sido a única pessoa a entrar naquele cais, aquele chamamento de índole bovina poderia, remotamente, dizer-me respeito...Volto-me, então, para trás e dou de caras com um amigo/subordinado que nunca me havia passado à frente da vista a segurar no meu prestes a caducar Cartão Jovem que, pelos vistos, enviei a testar a textura do fundo do bote colectivo quando retirei o meu passe social...


- Deixou cair isto, amigo! É seu??

Estive assim, a este bocadinho (unha do polegar direito espetada na falange no indicador da mesma mão...) de lhe esponder que, tendo em conta a fotografia bem visível, a pergunta era demasiado estúpida para brotar do pensamento de um hipopótamo, quanto mais de um ser humano...Mas calei-me sabiamente e, já que ele queria tanto ser meu amigo, abri-lhe as portas do meu coração (bem, mais ou menos....) e disse, com uma cara ainda mais imbecil que o costume:


- Olha, caiu... (achei por bem dizer também qualquer coisa estúpida de modo a criar alguma empatia...)...É meu é...Obrigadinho, oh amigo, um bom dia!!




E assim alarguei um pouco mais o meu círculo social...Segui viagem então, até uma das mais populares frequesias de Lisboa onde, daqui a uns dias, vou começar um estágio inserido nas actividades de Suicídio Assitido a que me tenho dedicado desde Outubro passado...E não, o bote colectivo não me levou até aos manjericos de Alfama...Não, também não foi até aos freaks do Bairro Alto nem aos pastéis de Belém...O bote colectivo deixou-me na acolhedora freguesia da...da...da...está quase dito...do Harlem, quer dizer da Damaia!!! Pois, é isso...acho que ainda não há nenhum bote colectivo que consiga fazer essa viagem...Damaia, é isso, Damaia era o que eu queria dizer...Pois é...Mal ponho os pés no chão quase conseguia ouvir aquele famoso assobio do "Bom, Mau e o Vilão"...E dou de caras com uma mercearia chamada Mercado Africano, com uma loja-de-qualquer-coisa chamada Sons de África e com uma garagem com óptimo aspecto onde, a acreditar no que estava escrito no portão, se prestavam serviços de manicure, pedicure e cabeleireiro...Não pude evitar ficar um pouco nervosinho, ao mesmo tempo em que crispava com um pouco mais de intensidade a correia da minha mochila...


Passei, então, por baixo da linha da toupeira, e outra vez por baixo, mas agora do início do Aqueduto das Águas (do Rio Zambeze, talvez...) Livres, esquivei-me de um dos muitos papéis que pululavam pelos ares e comecei a procurar por indicações que me levassem à Caravela de Saúde da Damaia...


Verdade seja dita...está tudo muito bem sinalizado e não tive que andar muito até lá chegar...Talvez 400/500 metros...O suficiente para contar 27 cartazes de agências imobiliárias colados a estores poeirentos, numa tentativa que até daqui cheira a desespero para despachar aquelas fracções habitacionais...O suficiente para para ouvir outra voz, correspondende a um indivíduo que está muito bem posto na vida (a julgar pela quantidade de ouro que tinha ao pescoço e nos dedos) mas não o suficiente para comprar um relogiozito, a perguntar:


- Sócio...tens horas?


- São 12h... - respondi eu ao meu novo companheiro de negócios...


E o suficiente para estar à beira de uma passadeira e acenar timidamente, como forma de agradecimento, a um carro que mais parecia um foguetão da NASA, apinhado de rapazes entroncados e de aspecto extremamente afável, que teve a gentileza de me deixar passar a estrada antes de acelerar com estrépito rumo às entranhas da Damaia...


Sexta-feira, 13 (uhhh, que medo)...Damaia...eu estive lá...Corajoso...E de lá voltei para contar a estória...with my balls in a single piece...in their place...


(Afinal não me aconteceu mesmo nada...é sexta-feira 13 (uhhhh, que medo), estive na famosa Damaia e não me aconteceu nada...E as casas lá até são baratinhas...Tu queres ver???)





1 comentário:

Bela Isa disse...

Eu estive a trabalhar e também não me aconteceu nada... e olha que a mim, quando trabalho, normalmente acontece-me muitaaaaaaaa coisa!!! ***