E agora é que vou escrever sobre aquele dia acerca do qual ia escrever se não tivesse surgido aquela notícia da "bofetada histórica" na qual acabei por basear aquilo que escrevi...Hummm...um bocado confuso...Mas não faz mal. E era melhor que tivesse omitido aquela história e passado logo a rabiscar sobre o que se passou naquele dia. Não que se tivesse passado algo extremamente incomum mas ao menos não me tinha sujeitado ao meu próprio exagero...Quer dizer, era só uma bofetada histórica, mais nada. Mas, com a mania de hiperbolizar os acontecimentos, vou ter que carregar eternamente a cruz de me imaginar um sodomita entre iranianos. O que, convenhamos, não é nada agradável...Bom, mas como os chavões hão-de servir para alguma coisa, resta-me dizer...Ano Novo, Vida Nova, e tal...e tal...e nada do que escrevi naquele post maldito há-de acontecer...Espero eu, ou melhor, imploro eu...
Mas o que se passou naquele vulgaríssimo dia, afinal?? Nada de especial...mas antes de prosseguir devo revelar que, ultimamente, tenho vindo a ganhar o mau hábito de me referir ao café (à bica, aquela coisa que vulgarmente se bebe a seguir às refeições...) como droga. E não é raro ouvir-me dizer "Quem quer droga?", "Vou ali à droga?" ou "Vou-me drogar", este último quando vou beber café...Acontece que este tipo de tendências, quando usado frequentemente com pessoas em quem se confia e percebem estes códigos, corre o risco de ser extrapolado para outras ocasiões onde o seu uso carece de qualquer sentido (epah...hoje estou a escrever com uma grande eloquência...pois, basta ler a frase com que comecei o post...). E foi o que aconteceu comigo...Cheguei ao quoisque do boiador feito autómato e completamente absorto nos meus pensamentos, mas determinado a drogar-me, quer dizer, a beber um cafezito...Então, quando a senhora de 1.50m e barrete cinzento recorre ao seu mais profundo desprezo por mim e ergue-me as sobrancelhas eu disparo:
- Quero droga!
Digamos que o som da minha voz teve em mim o efeito de um carvalho centenário a despedaçar-se na minha tola e eu acordei do meu alheamento ainda a tempo de cuspir um:
- Um café, sff...
...Logo a seguir a ter manifestado a minha vontade de consumir ilegalidades...
- Quero droga!
Digamos que o som da minha voz teve em mim o efeito de um carvalho centenário a despedaçar-se na minha tola e eu acordei do meu alheamento ainda a tempo de cuspir um:
- Um café, sff...
...Logo a seguir a ter manifestado a minha vontade de consumir ilegalidades...
O dia continuou, então, sem sobressaltos até chegar aos briefings que ando a frequentar no navio-escola da minha frota...Eram os primeiros do ano e uma colega marinheira muito simpática manifestou essa sua característica perguntando-me, cordialmente:
- Então, esse ano? Que tal?
Eu, para variar, podia ter sido simpático e inteligente mas, antes que o meu cérebro pudesse impedir (eu bem o vi a correr de braços no ar a gritar NÃOOO, mas eu não lhe liguei...), respondi:
- Sei lá!! Ainda agora começou...
O que me valeu outro violento (e merecido...) slap no braço esquerdo...
- Então, esse ano? Que tal?
Eu, para variar, podia ter sido simpático e inteligente mas, antes que o meu cérebro pudesse impedir (eu bem o vi a correr de braços no ar a gritar NÃOOO, mas eu não lhe liguei...), respondi:
- Sei lá!! Ainda agora começou...
O que me valeu outro violento (e merecido...) slap no braço esquerdo...
Porém, quase que me redimi! No intervalo, estava à conversa com as minhas agressoras (a de agora e a outra colega marinheira da roupa esburacada...) e, conversa puxa conversa, fomos ter às datas de aniversário...Ora eu tenho uma facilidade ridiculamente fútil em decorar datas de nascimento e números de telemóvel. Num momento de raro brilho e deixando as minhas agressoras embasbacadas de espanto recitei de cor as suas datas de nascimento, que me haviam dito uma vez, nos primeiros briefings, lá para Outubro...Ia tão bem mas, mais uma vez, meti a pata na poça...Foi qualquer coisa assim do género...
- Ora tu (a agressora recente) fizeste 23 anos dia 25 de Novembro e tu (virando-me para a primeira agressora, uma colega marinheira com perto de 1,80m...) vais fazer 25 no dia 21 de Março...
Ahhh's e ohhh's e...
- (virando-me para a primeira agressora) Saber a tua é fácil...tu és alta, 'tás a ver, e 21 de Março é o dia da Árvore, 'tás a ver...
Desta vez não levei nenhum slap...Se calhar merecia é que ela me desse mesmo com um dos seus galhos, oops...quero dizer mãos, no trombil... Mas foi simpática ao ponto de não o fazer...Também já se sabe, se houver chatices com os iranianos quem se chega à frente sou eu portanto, não ficar desde já com a fronha a ferver seria o mínimo, não!?
Estava o meu desinteressante dia quase a acabar quando chega o último briefing...Mais uma vez, nada de muito especial se passou...mas conheci uma pessoa (a prelectora desse briefing...) que conseguiu o impossível que foi bater o recorde de expressões-bengala (aquelas tipo "'tão a perceber", "é o seguinte", etc...qualquer palavra ou expressão que uma pessoa repete muitas vezes e ampara o seu discurso...) que se cifrava, desde o tempo do meu navio-escola, em 144 "muitas das vezes" em 120 minutos de aula o que dá a interessante média de 6 "muitas das vezes" por cada 5 minutos de aula...É uma marca impressionante e, pensava eu, imbatível...Até há 2 dias atrás quando, numa intervenção de 24 minutos (na verdade foram 30 mas os primeiros 6 gastei eu até desconfiar que poderia estar a presenciar um momento histórico...) foram proferidos 91 irritantes "é assim"...Para uma sensacional média de um "é assim" a cada 15.8 segundos daqueles intermináveis 24 minutos...Qualquer coisa como 19 (sim, 19!!) "é assim" por cada 5 minutos...Acho que, a partir dos quarto de hora, já estava obcecado com os "é assim" e não conseguia ouvir mais nada...Pior ainda foram os últimos 4 minutos em que comecei a reagir fisicamente (mexendo o rabo na cadeira, ora à esquerda, ora à direita...) a cada "é assim"...Enfim, uma autêntica tortura...
Não sei se as minhas agressoras repararam no meu sofrimento...
Mas eu ouvia rir baixinho algures...
2 comentários:
ainda bem que não estive presente no episódio dos aniversários! Apesar de desconfiar que te lembras do meu? ATREVE-TE!
Quanto ao tebefe que não levaste, bem que o merecias... A tua sorte é que ela é uma pessoa sensata, e que compreende os teus devaneios!
Ah! Tenho que saber quem é a autora do "é assim"! Não me consigo lembrar de ninguém da Caravela que repita isso assim!
Tens que me contar. ok?
De muitos "muitas das vezes" foi feito também o meu percurso pelo navio-escola... e tantos "portanto"!!! lol É verdadeiramente histórico... era já tradição alguém, todos os anos, se dedicar a passar uma aula a contá-los... BRILHANTE!
Grande crónicas!!! Parabéns!
E um convite para uma visita ao meu recente blog:
www.apenasporquesim.blogspot.com
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